O primeiro 1º de Maio de JLo

“É hoje celebrado o Dia Internacional do Trabalhador, uma homenagem justa e merecida aos operários de Chicago que em Maio de 1886 tomaram as ruas dessa cidade norte-americana em massivas reivindicações a favor da redução da jornada de trabalho para oito horas diárias”.

Não. Não estamos a repescar uma informação de uma qualquer intervenção sindicalista feita nos EUA. Trata-se apenas do primeiro parágrafo da mensagem, foi mais um bilhete, aos trabalhadores angolanos feita, hoje, pelo Presidente da República, João Lourenço.

Diz João Lourenço: “Cento e trinta e dois anos transcorridos, em muitos lugares do Mundo o estabelecimento de condições que humanizem o trabalho de milhões de homens e mulheres e promovam remunerações dignas da dimensão do seu esforço quotidiano continuam na ordem do dia e a desencadear relações tensas entre patronato e assalariados”.

“No nosso País e iniciado o novo tempo com a paz definitiva, conquistada há 16 anos, milhares de filhas e filhos da Pátria fazem do trabalho o seu mais sagrado dever, dando vida às múltiplas formas de produção nas cidades e no campo, certos de que há todo um longo caminho a percorrer, para que se mitiguem os problemas enfrentados diariamente pelas populações e ganhe um vigor renovado o processo de desenvolvimento social que nos conduzirá ao bem-estar colectivo”, afirma o também Titular do Poder Executivo.
Assim sendo, acrescenta João Lourenço, “exprimo o desejo de que a comemoração do 1.º de Maio estimule, em todas as angolanas e angolanos, o firme desejo de cada um contribuir, com o melhor que sabe e pode fazer, para o grande esforço da Nação, pela contínua e crescente criação de riqueza, o caminho que nos levará a uma distribuição equilibrada da renda nacional, para felicidade das famílias, das empresas, dos trabalhadores”.

O epílogo da mensagem do Presidente João Lourenço é verdadeiramente emblemático: “Que viva o Dia Internacional do Trabalhador!”.

E pronto. Foi assim. Mas há quem diga outras coisas. Recordemos, por exemplo, o que o Folha 8 escreveu no dia 1 de Maio de 2016:

“O MPLA resolveu, mais uma vez, vestir a pela de cordeiro e vir a público dizer que está preocupado com os seus escravos. A estratégia é antiga mas, mesmo assim, apanha na rede sempre os mais ingénuos.

Assim, hoje, o MPLA reconheceu (é preciso ter uma lata descomunal) que as comemorações do Dia do Trabalhador no país acontecem este ano num momento “particularmente difícil, do ponto de vista económico e social”.

É assim há 40 anos. Também é assim a repetição até à exaustão da tese: olhai para o que dizemos e não para que fazemos. Ou seja, estão apenas preocupados com os poucos que têm milhões, relegando para as calendas os milhões que têm pouco… ou nada.

A posição surge na nota oficial do partido no poder em Angola desde 1975, a propósito do 1.º de Maio, admitindo que a queda do preço do petróleo no mercado internacional tem provocado “constrangimentos” na vida dos trabalhadores angolanos.

“Com o objectivo de atenuar tais constrangimentos, o MPLA encoraja o Executivo angolano a implementar, com rigor, as medidas que visam a diversificação da economia, aumentando significativamente a produção nacional e as fontes de receitas, para que Angola possa ver reduzido o peso do petróleo no seu Produto Interno Bruto”, lê-se numa nota enviada à comunicação social e, é claro, destinada a ser publicada sem mais comentários.

No caso do Folha 8 bateram à porta errada porque, como acontece desde a nossa fundação, em 1995, recusamos ser meros amplificadores das teses oficiais. Temos opinião. Pensamos pela nossa cabeça. Não fomos formatados (embora não parem de tentar) pelo regime e recusamo-nos a frequentar as aulas de educação patriótica “made in MPLA”.

O partido, liderado por José Eduardo dos Santos, que é também Presidente de Angola (nunca nominalmente eleito) e Titular do Poder Executivo desde 1979, advoga a necessidade de o Governo dar “respostas claras às necessidades das populações”, nomeadamente “aumentando o investimento público e estimulando o investimento privado nos sectores que geram mais empregos e destinando mais recursos para a agricultura familiar”.

O MPLA parece ter agora descoberto a pólvora. Mas ela foi inventada há muito tempo. A diversificação da economia, a aposta na agricultura – por exemplo – é defendida por nós (entre muitos outros) há dezenas de anos.

Nesta altura, no reino de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, existem mais de dois milhões de angolanos em idade activa sem emprego, o que equivale a uma taxa de desemprego superior a 25%.

Angola enfrenta actualmente uma crise financeira e económica decorrente da quebra da cotação do barril de crude no mercado internacional, que só em 2015 fez diminuir para metade as receitas petrolíferas do país, com efeitos em toda a economia e a destruição, segundo os sindicatos, de milhares de empregos em sectores como dos petróleos e da construção.

Na origem desta crise está a criminosa política do regime de só pensar no petróleo, mau grados os apelos nacionais e internacionais para que deixasse de ser petróleo-dependente.

O FMI anunciou a 6 de Abril que Angola solicitou um programa de assistência (resgate) para os próximos três anos, cujos termos foram debatidos nas reuniões de primavera, em Washington, prosseguindo durante uma visita ao país, em Maio.

O ministro das Finanças, Armando Manuel, esclareceu entretanto que este pedido será para um Programa de Financiamento Ampliado para apoiar a diversificação económica a médio prazo, negando que se trate de um resgate económico.

Recorde-se que sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, ainda não deu autorização para que seja assinado o acordo com o Fundo Monetário Internacional. E não deu porque, se o fizer, o FMI vai confirmar o que há muito sabe. Isto é que, que o regime não é sério, está falido, mas não quer abdicar dos elevadíssimos padrões de despesismo a que se habituou.”

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